Eu não vi Batman Begins no cinema. Em uma daquelas minhas fases em que ir ao cinema era complicado, eu acabei perdendo a oportunidade de ver o (Na minha opinião) melhor filme do Batman... Até aquele momento. Conclusão: Vi em casa, com a minha namorada e o irmão dela. Terminei o filme quase saltando da cama depois que vi a carta do Coringa. Eu, como leitor de quadrinhos, já sabia da explosão que viria. Toda essa introdução é apenas para dizer que ao ver O Cavaleiro das Trevas (Me recuso a colocar Batman antes do nome) eu esperava por menos, e tomei um susto.
Primeiro que o filme tem uma série de tramas paralelas grudadas. Os núcleos são específicos: Bruce Wayne e Harvey Dent, trabalhando por cima dos panos para enobrecer a suja Gotham City; Batman, Jim Gordon e Harvey, agora em sua faceta de não tão bonzinho, planejando a queda dos mafiosos da cidade; e Coringa, utilizando os assustados mafiosos para se colocar diante do Homem-Morcego e fazer o que ele sabe fazer de melhor: Atazanar sua vida.
O filme pode ser julgado de três formas: Como uma adaptação dos quadrinhos do Batman e, nesse caso, uma mistureba desrespeitosa; Um blockbuster de ação, descabido como a maioria e por si só inteligente; E o mais importante e a visão que eu prefiro ter, a de uma adaptação do personagem e de seu universo para o cinema, para quem não é fã e, principalmente, para uma realidade que nós vemos todos os dias, salvo as discrepâncias, afinal é um filme de super-herói... Ou não.
Como o próprio Gordon fala próximo do final do filme, Batman não é um herói. Talvez ele estivesse dizendo que ele fosse um anti-herói ou até mesmo um super-herói. Eu vejo de outra forma. Para poder se tornar uno com a cidade, Batman teve de abraçar a sua visão distorcida e sua violência, criando medo e não respeito, contendo-se apenas para não passar do seu limite. Dessa forma, ele não é nem vilão, nem herói, ele é apenas o Batman, um dos espectros de luz de Gotham, suas trevas vingando-se dela mesma, para que ela possa andar na luz, um objetivo cada vez mais utópico, a medida que vão surgindo super-criminosos, seres corrompidos como o Batman, mas que não tem seus limites.
É aqui que entram Espantalho (Numa divertida e interessante participação especial), Coringa e o "vilão-surpresa". Todos eles nasceram da revolução que Batman trouxe a Gotham City. Ou talvez o Coringa não, apesar de que até o momento em que Bruce Wayne vestiu o traje militar e saiu detonando criminosos ele nunca tinha dado as caras. É a reação em cadeia: Você usa armas, eles usam armas maiores, você usa tecnologia, eles a aperfeiçoam, você usa heróis... Eles destroem tudo.
As atuações são dignas de menção: Novamente em papel pequeno, Michael Caine mostra um Alfred que serve de pai, mãe, conselheiro e assistente de Bruce Wayne, em suas duas vidas. Mesmo suas piadas estão mais afiadas e sua fidelidade mais forte, tomando decisões pelo bem de seu patrão e amigo. Gary Oldman, um camaleão como Depp e, uma nova descoberta minha, Gerard Butler, encarna em James Gordon e o traz para fora dos quadrinhos, agindo certo ou errado, desconfiando da sanidade de Harvey e Batman. E temos a nova Rachel Dawes. Realmente, o problema era com a atriz. Maggie Gyllenhall transforma a personagem, ainda que não conseguindo salvá-la de sua irritante permanência "em cima do muro". Porém, o que fazem à Rachel e o que ela faz com os dois "heróis" foi muito mais do que eu esperava.
Temos então o trio principal. Christian Bale reprisa o Bruce Wayne playboy excelente que fez em Begins e faz bem o papel de um Batman falho, que é obrigado a assumir seus erros e, no fim, acaba conseguindo salvar vidas, mesmo que tenha que fazer sacrifícios. Bale não é excelente, mas é conciso, se como Batman ele toma decisões mais radicais, como Bruce ele é desligado, ficando a pergunta: Quem é que está vestindo a máscara? Wayne ou Batman? Do outro lado da moeda temos Harvey Dent, interpretado por Aaron Eckhart. Se Wayne é desleixado, Dent é engajado, o que faz as pessoas desconfiarem se o cavaleiro da luz de Gotham não é também seu cavaleiro das trevas. Eckhart faz uma excelente interpretação, que fica ainda melhor quando o personagem passa pela transformação na terceira parte do filme.
Finalmente, no meio da trindade, temos o Coringa, que anda pela luz e pelas trevas, se revelando e se escondendo. Heath Ledger merecia estar ali, junto de Eckhart e Bale, ouvindo as críticas positivas que fizeram dele que sempre lembrarão de seu Coringa, sinistro, insano, medonho. Eu adoro o trabalho que Jack Nicholson fez em Batman de Tim Burton, porém, é esse Coringa de Ledger que eu ansiava ver nos cinemas: Totalmente livre de conceitos, ele apenas age, levando o Homem-Morcego à loucura, contestando sua sanidade, incitando um sentimento de assassinato nas entranhas do “herói”. Espero que, no futuro retorno do personagem, um ator consiga fazer no mínimo o mesmo que Ledger, e dando mais e mais motivos para o ódio de Batman pelo Coringa.
O resto do filme são explosões e cenas aterradoras. Ao menos duas vezes achei que o filme tinha acabado e então fui surpreendido com mais um trecho emocionante. Saí do cinema satisfeito e querendo mais. O primeiro arco de Nolan por trás das câmeras acabou ali, deixando em aberto o destino de alguns personagens. Espero que ele aceite voltar, junto de todos os outros possíveis, dando a mim e a outros fãs do Batman algo muito bom para gastar nosso dinheiro. Eu já reservei o dvd!
Eu ainda acredito na volta de Aaron Eckhart!