quinta-feira, 25 de março de 2010

Cornwell e suas fantásticas histórias

Um amigo meu, desses que a gente faz por causa de um dos entraves da vida, se tornou meu parceiro de leituras "complicadas". Vez por outra ele volta a me perguntar: ô rapaz, qual seu autor preferido? Eu páro, penso, olho pra minha estante de leitura (digo, a cabeceira da cama) e vejo a montanha de livros que ainda tenho pra ler. Desses, um nome se destaca, Bernard Cornwell. Pra definir os livros dele eu sempre uso a mesma alusão: Pensa num historiador que resolveu que seria romancista, fazendo assim livros com dados históricos coletados por ele em sua função e também criando uma ficção que parece aqueles seus professores de história que realmente eram bons e te envolviam. Mas Cornwell tem um defeito que é, ao mesmo tempo, uma de suas maiores qualidades: Ele é apaixonado pela história de sua terra natal, a Inglaterra e principalmente por personagens de sua família, que podem ter participado de alguns dos maiores eventos da história inglesa.



Em livros que retratam desde a pré-história da ilha, como Stonehenge, até incursões da nação em outros locais do mundo, como a série de Sharpe, vemos que Cornwell gosta de ser detalhista ao mesmo tempo que mexe com o imaginário de personagens ou locais famosos. Nas Crônicas de Arthur, o vemos dar ao famoso personagem que lutava com Excalibur uma versão humanizada, menos heróica, mas mais lutadora. Em outras obras, como Azincoutr, ele passa por situações já retratadas por outros autores, dando uma visão talvez mais plausível, ainda que muito puxa das terras britânicas. É fato que, pretendendo ou não, Cornwell dá aos ingleses um ar de terra mágica, de povo guerreiro e, por que não, pais de muitas das maiores histórias do mundo. Eu posso enumerar e resumir algumas das histórias que li, citando o que mais me agradou e o que menos e indicando por onde começar a ler Cornwell.

As Crônicas de Arthur



Livros: O Rei do Inverno, Inimigo de Deus e Excalibur

Primeiro que li e o com a história mais curiosa. Na época do lançamento eu tinha acabado de passar por uma enxurrada de histórias "mágicas" e não me interessava em ler mais uma história do famoso Rei Arthur só para ver os mesmos personagens fazendo a mesma coisa. Acho que desprezava o livro antes de conhecer. Mas aí ganhei Excalibur, o terceiro da série e tive de morder a língua. Já nas primeiras páginas vi situações inesperadas e me choquei com a versão mais inocente e ao mesmo tempo mais brava de Arthur que já tinha lido. Fui obrigado a voltar na livraria e comprar o Rei do Inverno para então seguir com a história. Vamos aos fatos, então.
Em As Crônicas de Arthur o personagem principal não é o famoso líder bretão, um dos primeiros a unificar os povos da ilha, mas também um guerreiro que salvou a Inglaterra de se tornar um país bárbaro. O protagonista se chama Derfel, um padre sobrevivente dos tempos do cavaleiro Arthur e que está escrevendo a história do seu falecido amigo, fingindo escrever uma bíblia. Derfel foi um dos aprendizes do mago Merlim e chegou a batalhar ao lado de Arthur muitas vezes, se tornando um de seus cavaleiros. Durante os três livros vemos o crescimento de Derfel e como ele se tornou aliado do "rei", que nada mais era do que um comandante, um símbolo de como se deveria e pelo que deveria lutar. Derfel é ácido e tem seus desentendimentos por alguns dos personagens clássicos, como Lancelot, mas também vemos como certos "fatos" podem ser extremamente diferentes se visto por outro ponto de vista. E se Merlim não fosse um grande sábio, mas um louco com pretensões demais e que acertava? E ser Arthur não tivesse jeito para rei, mas achasse que poderia ser o braço direito do rei? E se Lancelot não fosse realmente um herói? Muitas perguntas que o autor responde de forma muito bem elaborada.
O meu único problema com essa série é que ela inaugurou um estilo de Cornwell de forma um pouco incoveniente, o de deixar algumas pontas soltas. Além, de é claro, me fazer desprezar por muito tempo Lancelot, impedindo que eu o visse uma vez mais como o formoso "irmão de batalha" de Arthur. Ainda assim, é minha recomendação mór para quem quiser começar.

A Busca do Graal



Livros: O Arqueiro, O Andarilho e O Herege

Segunda trilogida de Cornwell publicada no Brasil, A Busca do Graal não trata de um personagem histórico específico, mas de um período: A Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra. Aqui, o protagonista é Thomas de Hookton, um jovem que teve sua família e sua vila dizimadas por um cavaleiro francês e seu exército, que estavam atrás do Santo Graal, e acreditaram que encontrariam alguma pista, se não o próprio, na vila de Thomas. Fugitivo e sem o que fazer da vida, Thomas se torna um Arqueiro do exército inglês e passa a lutar por sua terra natal em algumas das maiores batalhas do final da guerra, como a de Crécy. Durante as expedições, Thomas acaba se incluindo na procura pelo cálice sagrado e encontra o cavaleiro que acabou com sua família, Guy de Vexille. Os dois se enfrentam algumas vezes, enquanto Thomas vai descobrindo porquê acreditavam que o objeto estivesse na igreja de seu pai e como a história dele é envolvida pelas lendas cristãs.
A trilogia do Graal é intrigante porque ela funciona como uma antítese da de Arthur. Na primeira vemos um personagem cristão com claras tendências ao paganismo, falando de um personagem conhecido de praticamente toda a Inglaterra. Na segunda é exatamente o contrário, com um personagem cristão seguindo uma lenda cristã através da Inglaterra. Como eu pude perceber depois, graças a outras obras, Cornwell passa do ateísmo à crinstandade dependendo do período em que a história ocorre, permitindo assim que seus personagens não sigam seus ideais, mas os que ele pôde observar como os da época. É meio estranho e talvez contraditório, mas funciona bem para compreender Derfel, Thomas e outros que viriam depois. Durante os três livros do Graal a história é muito mais corrida e linear do que a presente nos livros de Arthur e os personagens são mais simples, o que talvez não funcione tão bem para quem gostou de Excalibur.

Azincourt



Entre séries, Cornwell também tem livros de edição única e Azincourt é o mais recente a que tive contato. Aqui, o personagens Nicholas Hook (talvez um ancestral de Thomas) é um arqueiro de um vilarejo do sul da Inglaterra que é obrigado a seguir uma companhia militar quando comete um crime contra a Igreja. A partir daí, Hook luta e foge como um condenado para que possa se livrar do que acredita ser uma maldição de família e acaba se tornando parte dos homens de Sir John Cornwaille (primeiro personagem com nome próximo ao de Cornwell). Em meio aos soldados, Hook faz parte da enorme comitiva inglesa que invade a França para lutar por Henrique V e termina lutando na batalha de Azincourt.
Por ser um livro apenas, Azincourt não tem tempo de desenvolver algumas das situações que descreve, o que atola o livro de descrições lentas das atividades do exército inglês. Mais, fala de uma batalha que tem tudo para dar errado e mostra personagens ingleses claramente falhos. No entanto, é fácil gostar de Nicholas, o que me permitiu seguir até o fim do livro. Sinceramente, na metade do livro eu praticamente quis parar, sendo o primeiro livro de Cornwell no qual senti que não estava tão bom assim. Só mudou um pouco de figura perto do final, quando a narrativa se divide, deixando Nicholas de lado um pouco e seguindo outros três personagens importantes. Fica um adendo para Sir John Cornwaille, que tem tudo para ser descendente de Uthred... Da série que falo a seguir...

As Crônicas Saxônicas



Livros: O Último Reino, O Cavaleiro da Morte, Os Senhores do Norte e A Canção da Espada (Até o momento)

Eu digo que, se teve um motivo para comprar esse livro e não Sharpe, foi porque eu ADORO histórias de Vinkings e porque achei a capa muito melhor do que o maldito comandante de guerra e suas batalhas na Índia. Calma que ainda lerei Sharpe e talvez comente aqui. As Crônicas Saxônicas trazem um fato para mim inédito em Cornwell: O protagonista é um "possível" ancestral dele, Uthred de Bebbanburg. O tal Uthred era filho do senhor de Bebbanburg que também era Uthred, mas sempre foi renegado pelo pai, até que o irmão mais velho, Uhtred (Sim, isso era costume na Inglaterra) foi morto por invasores nórdicos. Em uma batalha que o próprio protagonista chamaria de chacina e idiota, seu pai foi morto e seu castelo tomado pelo tio traidor que fez pactos com os Normandos, que invadiam o norte da Inglaterra. Uthred, o protagonista, foi levado por um dos guerreiros normandos, Ragnar, e criado como filho seu, lutando ao seu lado quando se tornou mais velho e, mais tarde, pelo rei inglês, o último deles aliás, Alfredo. Basicamente resumi o primeiro livro o mais que pude. A verdade é que As Crônicas Saxônicas é minha série favorita de Cornwell e o motivo pelo qual comprei todos os livros dele em que consegui colocar a mão até agora. Isso sem contar os que ganhei.
As Crônicas Saxônicas tem personagens cativantes, é cheio de batalhas que me fizeram sentir novamente no Abismo de Helm e, principalmente, traz o melhor dos protagonistas de Cornwell que já pude ler. Uthred é tolo, comete erros crassos, e ainda assim é um guerreiro e, talvez, um herói, trazendo vitória para seu rei sempre que possível. Fiquei fascinado com a série e a recomendo, não como primeira série a ler do autor, mas como a principal. Sério.

É, esses são os livros de Cornwell que li até o momento. Assim que tiver mais, eu posto aqui. Até lá, acompanhem vocês também essas histórias do coração da Inglaterra.

quinta-feira, 18 de março de 2010

No Dia Mais Claro, Na Noite Mais Densa...

“In brightest day, in blackest night,

no evil shall escape my sight!

Let those who worship evil's might,

beware my power…GREEN LANTERN'S LIGHT!!”


(Juramento dos Lanternas Verdes)



Desde que o primeiro terráqueo tomou posse de um anel da tropa Oana e passou a ser um policial intergalático, os Lanternas Verdes têm sido apreciados pelos DCNautas. Como fã dos patrulheiros esmeralda, só posso comemorar o retorno dos personagens ao panteão da DC, graças à mente brilhante de Geoff Johns, a mega-saga A Noite mais Densa (que entre clichês e reviravoltas bizarras, fez o favor de ressuscitar grandes idéias dos LVs) e, claro, o filme do Lanterna Verde, para o qual estou dedicando um espaço especial deste blog, no qual farei uma crítica dizendo claramente que é uma merda ou que foi brilhante, dependendo do que vir a aparecer nos cinemas.

Por ora, só posso pensar em algumas coisas interessantes a falar sobre minhas impressões dos personagens e levantar algumas das notícias que apareceram sobre o filme. Vamos dividir este post em dois então: Certezas e incertezas sobre a película e um pequeno guia do que é bom saber se quiser começar a acompanhar Lanternas Verdes agora.

O Filme

Uma grande certeza, que poderia bastar por todas: A DC quer fazer um filme de pura ação e com uma combinação romântica fácil, sem muitos riscos. Sério, é o que explica o casal de protagonistas, Ryan Reynolds e Blake Lively. O cara é conhecido de comédias românticas e filmes de pancadaria (vide Wolverine, da concorrência) enquanto que ela... É a garota de Gossip Girl. Sério. Não somente vai ser meio difícil fazer ela parecer mais velha e séria (além de morena) como é provável que venhamos a ter que aguentar aqueles bons 30 minutos para que o casal se entenda, ela perceba que ele é um herói e que há muito mais do que o cara mala que pilota um avião e ele precise da ajuda dela. E isso que o filme se chama Lanterna Verde.


É só uma montagem, mas deu pra sentir o drama...

PORÉM, existe a boa possibilidade que eu morda minha língua, já que Homem de Ferro tinha a, quase sempre chata, loiríssima Gwyneth Paltrow e era bom. Mais do que bom, oras bolas, o primeiro Iron Man chuta bundas, foi o primeiro filmão da Marvel desde Homem-Aranha 2. Me senti em casa, falando nisso. E tem mais, Lanterna Verde é praticamente todo baseado na nova leitura de Geoff Johns sobre a origem do Lanterna Verde Hal Jordan e isso diz muita coisa.

Outro ponto forte é que, se o elenco principal é perigosamente blásfemo, o de apoio é genial. Peter Sarsgaard não é exatamente um dos atores mais cotados de Hollywood, mas faz personagens sombrios e pertubados suficientemente bem para tornar Hector Hammond cinematográfico numa versão em carne e osso do cabeção dos quadrinhos. Acredito que ele não somente faça um vilão tão bom quanto Justin Hammer do filme marveístico. E ainda tem Mark Strong. Depois de vê-lo contracenando com Robert Downey Jr. em Sherlock Holmes, não tenho dúvidas de que ele pode fazer um personagem dúbio, vilão e herói ao mesmo tempo, e sem suar, aparentemente. Ele não tem a testa ou o olhar fundo de Jackie Earle Haley, o Rorschach de Watchmen, mas isso não é problema. Com a maquiagem certa, é capaz de Strong se tornar o novo Coringa.

Outro ponto forte é que, apesar da tendência da DC de se sabotar, os recursos dispostos para a produção do filme permitem que vejamos muito do que temos da HQ e, ao menos eu estou, estamos loucos para ver Killowog, os Guardiões do Universo, OA e os construtos que são possíveis de fazer com o Anel. Se não é o bastante, ainda haverão alguns easter eggs, deixando espaço para as continuações, como o boato de que John Stewart, o segundo Lanterna da Terra, estará presente em uma cena.

A HQ

A história da HQ é simples, podendo ser resumida em algumas linhas: Desde o princípio do universo, um grupo de alienígenas, conhecidos como os Guardiões do Universo, tentam criar uma espécie de polícia intergalática que patrulhasse e mantivesse em ordem todos os setores do universo. Após algumas tentativas falhas, os Guardiões criaram os anéis, que funcionavam a base de Força de Vontade, uma das energias vitais que todos os seres vivos possuem. Cada setor teria um Lanterna Verde, que portaria um desses anéis e ficaria responsável por monitorar as atividades interplanetárias do seu setor. Um belo dia, quando um piloto de caça marrento e abusado conhecido como Hal "Highball" Jordan dava uma passeada pensando nas garotas que ele ia pegar na próxima ida ao bar, viu uma espécie de nave caindo no deserto. Aproximando-se do local do acidente, viu que a nave tinha um único tripulante, gravemente ferido. O alienígena se apresentou como o Lanterna Abin Sur e pediu que Jordan portasse o anel no lugar dele, já que o Sur precisava fazer algo que não poderia ser adiado: Morrer. Assim, Hal se tornou um Lanterna e começou a revista.

No seu período de treino, Hal teve contato com outros Lanternas, que o ajudaram a se tornar um bom patrulheiro: Tomar-Re, Killowog e, principalmente, Sinestro, o mais próximo de Abin Sur, antes da morte do Lanterna. Durante esse período também surgiram alguns dos piores inimigos de Hal: Hector Hammond, o humano que desenvolveu dons telepáticos; Atrocitus, um dos alienígenas sobreviventes de um massacre no setor 666; e principalmente o próprio Sinestro. A princípio bons aliados, Hal e Sinestro se tornaram rivais como Lanternas Verdes e mais tarde o terráqueo acusou o amigo de ser um ditador, por conta do que viu em uma visita ao seu planeta natal.



Após Hal, outros Lanternas surgiram na Terra: John Stewart, que lhe substitui por um tempo e foi afastado do cargo após cometer um erro que destruiu um planeta inteiro, e Guy Gardner, um arrogante baderneiro que acabou passando por mais mudanças de visual e comportamento do que aquele seu primo emo/pagodeiro/roqueiro. O problema real veio quando um clone do Super-Homem destruiu Coast City, a cidade em que Hal morava, iniciando uma transformação total no humano, que acabou se tornando o vilão Parallax. Pra encurtar o drama, a Tropa foi pro escambau, Hal se sacrificou para salvar a Terra e Parallax se revelou uma entidade, que simbolizava o medo.

Para quem quiser saber mais, recomendo a mini Lanterna Verde: Renascimento, que traz o retorno de Hal, da tropa, de Guy e John e a melhor fase de Kyle Rayner, o último Lanterna Verde do universo. Renascimento também traz o início de uma nova era para as histórias dos Lanternas Verdes. Com a descoberta de que o amarelo é a cor que simboliza o medo e que Parallax é sua entidade, abriu-se espaço para o arco-íris que rege os novos Lanternas. Existem sete radiações, sete energias que podem gerar tropas e a Verde é apenas uma delas. São elas: Verde (Força de Vontade), Amarelo (Medo), Vermelho (Fúria), Azul (Esperança), Violeta (Amor), Laranja (Cobiça) e Índigo (Compaixão). Assim, descobriu-se também que Sinestro se tornou o líder de uma tropa de Lanternas Amarelos, sendo o principal portador da energia amarela, o Medo.



E começa aí a Guerra dos Anéis, acompanhada por nós entre as edições 1 a 5 da revista dos Lanternas Verdes e uma amostra de como os Lanternas evoluíram de coadjuvantes para grandes personagens da DC. E também é o chute na lata de lixo que tirou todas as idéias ruins do buraco e as transformaram. Os Lanternas não são policiais? Então bóra colocar uma corregedoria, os Lanternas Alpha, que são mais poderosos do que qualquer Lanterna Verde. Não tem armas poderosas, talvez as mais poderosas do universo? Então libera força letal nessa bagaça! Pra acabar o surgimento de cada tropa foi um passo para a mega-saga que chegará ao Brasil em breve: A Noite Mais Densa.



Basicamente, é a noite citada lá em cima no Juramento dos Lanternas, a noite em que uma oitava tropa surgirá (a Negra) e os mortos levantarão das sepulturas, para arrastar todos para a anti-vida. É, basicamente ESSA é a premissa da saga, mas imagina uma tropa que não pode ser derrotada no braço e que pode pegar todos aqueles mortos da DC e utilizar como bala de canhão pra arremedar outros heróis e vilões, tornando eles também mortos e mais balas de canhão. E isso é só o começo do rolo que em breve estará por aqui. Eu já estou separando o dinheiro.

terça-feira, 16 de março de 2010

All Star

Não, não se fez uma semana ainda, mas, como digo sempre, toda exceção faz a regra, então o texto certo sai quinta e este é apenas o desenrolar de um desejo. Escrevi o texto a seguir há algum tempo, quando ouvia com muita frequência a música homônima do Nando Reis. Eu gostei do resultado e resolvi dedicar a uma certa pessoa em especial (que, aliás, é dona do texto, quem quiser tem que falar com ela ;)). É uma "tradução livre" do que poderia significar as estrofes da música, por isso, é uma versão bem minha mesmo. Aproveitem.



O quarto bagunçado. Os lençóis jogados no chão. O ventilador se mexendo lentamente. O som tocando baixo uma música dos anos 90. O All-Star azul, único objeto verdadeiramente colorido, depositado sobre a cômoda, um alienígena organizado em meio ao caos. Dois corpos estirados ao chão, quase imóveis, descansam. Ele é quem abre os olhos primeiro, focalizando o tênis e sorri.

O sol a pino e os cadernos sobre a mesa não eram a melhor combinação para aquele final de ano. O pior era manter a concentração com a mente ocupada em outro lugar. Naqueles All-Star azuis, surrados mas ainda belos, que haviam dominado seus pensamentos nos últimos tempos. Aliás, o All-Star era apenas o prenúncio daquele pequeno e delgado corpo claro, revestido com a calça jeans e a camiseta de uniforme, completado pelos negros cabelos caindo pelas costas. Todo o conjunto pulava de cena em cena dentro da cabeça dele, sem dizer uma palavra, apenas acenando ou dançando conforme a música. Bufou tentando lembrar mais uma vez da fórmula para encontrar o cosseno tendo o seno.
O barulho do sinal avisando do final da terceira aula lhe despertou de qualquer devaneio. Sabia que aquilo significava menos chances ainda de conseguir manter a atenção no caderno de matemática. ELA estaria descendo a escada em instantes, feliz com a possibilidade de ficar ao menos vinte minutos longe das carteiras de madeira, superaquecidas pelos 32º que registrava o termômetro do outro lado da rua. Desistiu definitivamente de continuar tentando e guardou, sem pressa, o material na mochila velha. O ano de diferença que separava os dois é que definia que ele teria dois turnos no colégio, ao invés do único dela, pela manhã.
Saindo pela porta da biblioteca levou um susto ao reconhecer duas vozes que dobravam a esquina. Pegou o fiapo de um final de conversa.
- ... passo na sua casa hoje. É na rua das Laranjeiras, não é? Que número e andar?
- 507. Eu moro no 1204. É só tocar que eu desço. Não esquece de levar o xerox dos textos de português.
- Tá, mas...
Não conseguiu continuar ouvindo. Elas tinham virado a esquina e ele se deparou com aqueles dois grandes olhos... Azuis como o All-Star. Perdeu-se no mar ali contido. Sentiu o rosto ficar vermelho quando eles lhe fitaram e desviu a vista, só para olhar de canto de olho em seguida e encontrá-los novamente, apenas para eles desviarem agora. Elas seguiram e ele as acompanhou, desviando o olhar para aqueles All-Stars que tanto lhe atraiam. Claro que não percebeu que ela olhou para trás mais uma vez, muito menos que ela sorriu de leve.
Sabia onde morava, sabia qual era seu apartamento. Puxa! Até sabia o que ela faria à tarde! Mas... O que fazer com isso?

Ironia ou não, em breve as informações forem úteis. Os três anos do médio iam participar de um evento fora do estado e ele fora, sumariamente, escolhido para a comissão. O que ele não sabia antes de ficar brabo com a decisão é que ELA também era da comissão. Por causa da coincidência eles teriam que se encontrar. Só que ela ficou doente. O bastante para não ir ao colégio. Teria que ir até a casa dela. Entendeu?
Tremendo ele checou novamente o endereço anotado em uma folha de caderno. A rua das laranjeiras era pacata, mais residencial do que comercial, com apenas dois prédios em lados opostos. Um cinza, antigo e mal-cuidado, e o dela, imponente em seus doze andares. Óbvio que ela morava na cobertura! Onde mais seria? Ele pensou duas vezes. Quem sabe não deveria esperar que ela melhorasse? Quase deu meia-volta, correndo para o ponto de ônibus. QUASE.
Entrou no elevador, apertando com nervosismo o botão do elevador. Enquanto subia pelos doze andares ele sentiu que não era o calor que o fazia suar. Muito menos o tremelique do elevador que não o deixava quieto. Assim que a porta abriu achou que deveria voltar para buscar seu estômago lá no térreo. O curto corredor parecia quilométrico enquanto andava até o 1204. Tocou a campainha. A porta abriu.
- Ei! Que surpresa! - disse ela com a voz anasalada - A Tânia me contou que você foi o escolhido do terceiro ano. Que sorte, hein?
Ele paralisou. Ela vestia uma camiseta jogada, azul como seus olhos e o tênis, que agora não calçava. Mesmo usando calças moletom e com aquelas olheiras de cansaço ela parecia linda. Diabos, como alguém pode parecer linda doente?!?
- Ah... É. Por isso... Eu vim aqui... - e sentiu vergonha de continuar - E para ver como você estava.
- Puxa, obrigado! Ah, entre! Desculpa, eu fico muito desligada quando gripo. - ela riu sem graça - Meus pais não estão em casa, mas a Júlia, nossa empregada, está na cozinha.
- Eu achava que você tinha um irmão. - deixou escapar e se amaldiçoou pela enorme boca.
- E tenho! Só que ele passa o dia quase todo na faculdade. Sabe como é, trabalhos, namorada e essas coisas.
- É, imagino. O terceiro ano já é bem puxado.
- Vamos pro meu quarto, é mais sossegado. - e ele pensou o que seria mais sossegado do que aquela enorme e silenciosa sala? Preferiu ficar quieto.
O quarto dela era tudo que ele não pensava. Haviam pôsteres de bandas de rock nas paredes, a cama era bagunçada e o armário era marfim com azul ao invés de rosa. Será que ela não errou de quarto com o do irmão?
- Não estranha não. Eu não sou muito arrumada mesmo. - ela disse e se jogou na cama. - Sobre o que você veio falar?
Engasgou, pensou, engasgou de novo, revirou os olhos, pensou se seria possível engasgar uma terceira vez e acabou soltando um suspiro.
- Tá, admito derrota. Não sei exatamente nada sobre o assunto. - enrolou.
- Ok, você tá perdoado. Eu também não sei. - ela riu.
- Eu pensei que você fosse me dar uma luz. - ele arriscou, aproveitando a deixa.
- Só se for uma lanterna vagabunda que eu tenho em algum lugar daquele armário. - ela retrucou e ele não conteve o riso.
- Então somos dois perdidos. E agora?
- Você tem que perguntar tudo pra mim? - ela fingiu indignação. - Certo, tudo bem, temos que fazer alguma coisa ou serão três turmas para esganar a gente. Seis se contarmos as dos outros períodos. Aliás... Não deveria ter vindo mais gente com você?
Pronto! Encurralado! Que desculpa ele iria dar? Péssima idéia de vir ali despreparado. Óbvio que ela ia perguntar dos outros!
- Ahn... O pessoal... Da tarde vai se organizar entre eles e depois vêm falar com a gente. - escapou de uma - E... Eu não conheço o guri do primeiro ano, então... Não consegui falar com ele e esperava que você o conhecesse. - mentiu.
Ela pareceu ponderar a questão, erguendo a sobrancelha como ele só pensava que se fizesse em filmes. Por fim, ela sorriu.
- Fugindo do dever hein? Bem... Realmente seria chato ter muita gente aqui comigo nesse estado.
- Você não está nada mal... - ARGH! Cianureto por favor!
- Brigada. - Respondeu ela corando um pouco.
Instalou-se o silêncio enquanto ele procurava observar o quarto inteiro para não olhar diretamente para ela. Sem perceber, ela fazia o mesmo, encarando os pés dele. Só depois de um tempo é que ele notou os All-Star azuis, distintos do quarto, postados aos pés da cama. Preparou-se para um comentário quando ouviu ela rir baixinho. Fez cara de quem não entendia.
- Ah... É só que... Eu reparei nos seus tênis... All-Stars. Como os meus. - ela disse, enrolando um dedo no cabelo liso.
- É... É moda agora né? Juro que comprei antes de todo mundo usar! - ele brincou, erguendo as mãos. Ela sorriu.
- Acredito. É um modelo clássico. Mas... Cano alto?
- Eu gosto. É diferente. E aquece mais quando tá frio.
- Mas é um saco no verão... Tipo agora!
- É sim...
- Seus All-Stars combinam com os meus. - ela disse de repente, de cabeça baixa.
- É? Não tinha percebido. - ele murmurou.
- Sabe... - ela começou ainda sem olhar para ele. - Você é legal.
- Va-valeu. Você também é bem legal.
Ele havia ido para a frente, insconscientemente, e eles estavam pertos... Até demais. Ele podia sentir o calor do corpo dela, acreditando que era por causa da gripe. Talvez febre. Ela sentia que ele suava frio, e achou que fosse pela temperatura do ambiente seco. Ergueu os olhos e acabou hipnotizando-o, sem querer. Lambeu os lábios e engoliu em seco.
Ele foi para a frente, completando o trajeto e eles se encontraram por instantes. Longos instantes. Sabor de sal, ela pensou. Parece... O mar. Se afastaram, arfantes. Ela mais do que ele. Eles se encararam, incrédulos, tremendo de leve. Ela caiu de costas, o peito subindo e descendo agitado. De repente ela sentiu falta de ar. Se ajeitou na cama e olhou para ele com os olhos semi-cerrados.
- Desculpe... É a gripe. - ela sorriu.
- Tudo bem. Você tem que descansar. Eu... Já estou de saída. A gente conversa amanhã?
- Claro. A gente se fala amanhã. Eu não te dou um beijo... - ela começou e engasgou - No rosto quero dizer!... Porque... Bom, cê tá vendo como eu estou!
- Fica tranquila. Inté.
E ele saiu. Sozinha no quarto ela suspirou.

No intervalo ele saiu mais depressa da biblioteca do que nunca. Tinha visto que ela viera para o colégio e parecia bem melhor. Queria (TINHA) que encontrá-la. Curioso: Foi vê-la debaixo da laranjeira da escola, sentada na sombra com aqueles mesmos All-Star azuis se destacando das roupas quase monocromáticas. Sentou-se ao seu lado com estrondo, quase fazendo com que ela pulasse.
- Você quer me matar como a gripe não fez é? - ela brincou.
- De jeito nenhum! Eu só queria saber como você estava.
- Bem melhor. Eu consegui dormir bastante depois que você saiu. E o remédio fez efeito.
Eles se calaram, olhando as pontas dos pés.
- Ahn... Quer voltar lá em casa hoje? - ela perguntou, acanhada, abraçando o próprio tronco.
- Pode ser... Pra quê?
- Me fazer companhia oras! Eu ainda estou convalescente!
- Ah sei...
- E também... Pra gente terminar aquele assuntou de ontem.
Ela ficou vermelha e ele entrou na competição. Mesmo quem estava de fora perceberia que os dois estavam mais do que envergonhados.
- Então... Eu tenho que ir. Marquei de conversar com algumas amigas para tirar umas dúvidas já que estive doente. Té mais tarde!

Quando entrou na Rua das Laranjeiras ele não estava só nervoso. Sorria por dentro e por fora, ansioso. Entrou no prédio voando. O elevador pareceu lerdo e tocar a campainha foi um sufoco. Foi ela quem abriu hoje também. E estava melhor do que ontem. Sem as olheiras, vestia uma camiseta mais leve, de banda, uma calça jeans, não aparentando nada ser a gripada do dia anterior.
- Oi. - disse ela de forma muito delicada, talvez um pouco tonta.
- Oi. Calor hein? - ele disse.
- Pois é. Quer entrar? Não... Desculpa, pergunta idiota. Entra aí.
Dessa vez ela não disse para irem para o quarto. Já estavam lá quando ele pensou no assunto. Ela se sentou na cama de novo e ele foi para a cadeira. Ficaram quietos, sem saber o que dizer. Ele reparou que os All-Stars não estavam aos pés da cama e estranhou. Onde ela teria colocado? Como que lendo sua mente ela riu e apontou para a cômoda. O par estava ali, como um troféu.
- Achei que ele merecia um lugar de destaque... Depois do efeito que teve ontem...
Foi a senha que ele esperava. Encurtou o espaço entre eles e caiu de joelhos. Ela riu, mas sem interrompê-lo. A altura dos dois atrapalhou um pouco então ela também foi para o chão, de joelhos. Deitaram, sem querer puxando os lençóis e ficaram assim por um tempo. Pararam para respirar.
- Por... Quê? - perguntou ele.
- Não sei. Mas eu senti vontade ontem e hoje ela só aumentou. Parece que... Fiquei com sede de você.
Ele riu. Fecharam os olhos curtindo-se por um tempo. Ele foi o primeiro a abrir, focalizando os danados dos All-Star azuis. Sorriu.

quinta-feira, 11 de março de 2010

O Retorno do Black e Final Fantasy VIII

No princípio havia o verbo. E ele era unânime e infinito: Postar. Não, não, tem coisa antes disso. No início havia a ordem: Fazer um blog. E ele deveria ter postagens próprias do autor, e ser algo informativo. Isso durante seis meses, ou menos, dependendo da vontade do professor. E assim nasceu o SNSSSN, o blog com um nome ENORME, um pouco de boa vontade e, sinceramente, quase nenhuma criatividade. Pois o SNSSSN está para passar por uma mudança. E quero agradecer aos meus Favoritos do Mozilla por isso, podendo citar, mais recentemente, o Hammer, a Milla, o Lobo (tá, porque ele linka coisa legal bagaraio), a Kah e até mesmo meus... "Colegas" do Sake com Sal. E como eu agora sou jornalista formado, deveria informar mais, ser mais conciso, fazer posts interessantes para o grande público... NOT. Ok, o SNSSSN volta, sem mais posts diários (ou tentativas de), sem mais alegorias e sem querer agradar ninguém. Só eu mesmo. E depois de toda essa lenga-lenga, vamos ao que importa.

Como eu disse, um dos que me incentivaram de forma indireta a voltar à isso aqui. Recentemente ele começou uma série de textos que serviriam para fazer uma análise cronológica da série principal da franquia Final Fantasy e está perto de falar do meu capítulo favorito. Coincidência ou não, um amigo meu discutiu esse mesmo capítulo esses dias, colocando em voga algumas das coisas que mais me agradaram no episódio VIII. Como eu sou insistente e chato, resolvi que iria rever o capítulo VIII e análisá-lo de forma mais crítica, verificando seus pontos fortes e pontos fracos, o que leva a esse texto de hoje. Antes que o Amer analise pela visão dele, deixe-me apresentar a minha e ver se concordamos em alguma coisa.



Roteiro

Pra começar: A história. Em um mundo similar ao nosso no milênio passado, que mistura tecnologia e magia, existem as chamadas Feiticeiras, humanas com grande capacidade de assimilar magias poderosas, do tipo que mudam a realidade. Essas feiticeiras aparecem de tempos em tempos e interferem na evolução da sociedade. Para contrabalancear, o mundo tem grandes forças militares que funcionam basicamente como as escolas militares brasileiras: Os jovens se inscrevem e estudam na academia (Garden) e formados se tornam uma espécie de exército, ainda que mercenário, que protege as cidades e realiza missões para o estado. Esse exército é chamado de SEED e é em um deles que encontramos o protagonista: Squall Leonhart. Órfão, solitário e revoltado, o garoto está prestes a se formar na Garden de Balamb e se unir à SEED quando entra em confronto com o rival, Seifer, um garoto arrogante que detesta o jeito instrospectivo do protagonista. A luta dos dois acaba ferindo ambos, marcando seus rostos com cortes idênticos, mas opostos. Quando acaba na enfermaria, Squall tem uma visão e acaba sendo direcionado para uma jornada que envolve golpes de estado, um plano milenar de uma feiticeira e a queda e ascensão das Gardens.



A trama de FFVIII começa lenta, demoramos a compreender o porquê do envolvimento de Squall (que não é de todo coincidência) e também acabamos encontrando sub-tramas que parecem mais interessantes do que a linha principal, pelo menos durante o tempo em que demora para os seis protagonistas engolirem a verdade sobre tudo em que eles acreditaram. O que mais me empolgou sempre em FFVIII não foi sua trama, apesar de achar interessante, ou seus protagonistas, mas como ele ao mesmo tempo é um RPG padrão, com designios para cada um dos personagens, e também a manipulação de um filme. Podemos escolher detalhes simples como a customização do combate de cada personagem e também as formas como interagem (claro que não num nível Persona) e ao mesmo tempo não invertemos a ordem dos acontecimentos ou geramos um final diferente (como é em Chrono Trigger), o que o torna um típico JRPG na opinião de muitos, mas que foi um choque pra mim, quando estava iniciando na grande série da Sony.

Sob um olhar mais clínico, FFVIII apresenta algumas inconsistências e tem a estranha tendência de deixar pontas abertas em seus personagens. Em vários momentos é possível questionar porquê alguns deles continuam no grupo, sendo que suas motivações somem sem deixar vestígios. Outros, no entanto, possuem uma profunda relação com o desenrolar da história, como a presença do afobado Zell. A princípio um alívio cômico (papel tomado pelos irmãos Raijin e Fuujin a partir do segundo CD), o garoto se mostra muito mais denso e acaba ocupando um espaço considerável da vida do protagonista Squall. Aliás, uma das informações do jogo é que Squall é um poço de azedume e que praticamente GOSTA de ficar sozinho, fato que é visto ao longo do primeiro disco. Mas, de acordo com o avanço da história ele passa a falar mais (já que as pessoas aparentemente respondem questões dele que não vemos ele fazer, afinal é o protagonista) e também a respeitar mais a presença dos "amigos". Agora, apesar de ser a evolução natural de um cara introspectivo (similar ao Cloud de VII), Squall aparentemente dá um salto de comportamento, demonstrando afeição clara por certos personagens a partir de alguns momentos do CD 3. E aí começa a trama de verdade de Final Fantasy VIII.

Jogabilidade

O que me surpreendeu na primeira vez em que comandei Squall e Quistis para a Caverna do Fogo logo no início do jogo foi o modo como esse RPG trabalha as magias e os summons, aqui nomeados como Guardian Forces ou GF´s. Para um jogador de JRPG frequente pode parecer um modo comum, mas para mim, que havia começado a jogar Final Fantasy por aquela edição, me pareceu genial. O modo como os personagens reagem aos GF´s equipados, a possibilidade de estocar quantidades boas de magias pelo comando Draw e como você pode fazer Cure se tornar muito mais forte que Curaga, apenas tendo 99 da primeira e 3 ou 4 da segunda. Tudo isso me deixou com a impressão de que o jogo tem uma capacidade enorme de evolução e diferenciação para cada personagens. Alguns gostam de colocar magias ofensivas como Fire ou Blizzard no status de Ataque para aumentar o dano causado, outros preferem arriscar com magias de Status como Poison ou Sleep, para que isso afete o inimigo que receber o ataque físico. Há muitas variáveis.



Outro ponto forte é que os personagens não são classificados por Classe, mas por suas armas. Apesar de não ser claramente dito, Squall é um Knight, Quistis é Red Mage, Zell é um Monk e Irvine é um Gunslinger. Por outro lado, ficam dúbias as classes de Rinoa e Selphie, que poderiam ora ser classificadas como Archer e Fighter, por suas armas, e ora poderiam ser espécies diferentes de Priest e Sage, por seus Limit Breaks. O uso de LB quando em life baixo é uma das sacadas mais interessantes do jogo: O jogador pode escolher arriscar em deixar os personagens com pouco HP para utilizar suas habilidades mais fortes ou sempre mantendo o HP cheio para que eles não morram facilmente.

O grande truque é que, apesar dos vários tutoriais e dos atalhos, o jogador precisa ser intuitivo, para que possa fazer as melhores estratégias antes das batalhas mais fortes, principalmente diante de Omega Weapon, o chefe mais difícil que esse jogo poderia produzir e que te faz espirrar sangue, graças à sua ownagem intensa. É sério, em todos os walktroughts que já vi do jogo e na única vez que ganhei dele, precisei fazer sacrifícios enormes e orar para vários deuses. O único problema sério que enfrentei é de que depois de um tempo cansa ter que ficar coletando magias atrás de magias em vários pontos extremos do mundo de FFVIII para poder auxiliar no griding. Mesmo estando você no nível 99, se você não tiver boas magias para equipar, você é um lixo. E um lixo dos grandes, daquele que você olha para a mãe com terror quando ela te pede pra colocar na rua.

Extensão

Quando digo que Final Fantasy VIII pode ser longo, não me refiro apenas aos quatro CD´s do jogo. Seus cg´s (que são maravilhosos), sua necessidade de griding e a possibilidade de conseguir vários itens extras no jogo dão ao game mais tempo do que se espera quando abre a capa e vê que existe um disco com o número 4. Para ser mais exato, há várias tarefas que o jogo exige que, se cumpridas, providenciam todo o poder necessário para chegar ao fim do jogo com todo o poder de fogo disponível. Não somente três GF´s não fazem parte da lista principal e precisam de certas tarefas ingratas para se conquistar, como o jogo de cartas disponível fornece muitos novos itens. Explico: Dentro do jogo há um mini-game de cartas que começa de forma simples, mas trás muitas surpresas. Cada personagem possui uma carta e graças ao GF Quetzacotl, você pode "refiná-las", transformando em itens poderosos. Um exemplo? Laguna, o herói do passado, tem a carta que quando refinada gera 100 Holy Wars, itens que deixam todos os personagens da tela em Aura, o status para uso contínuo dos Limit Breaks. Já comentei que essa é uma das maiores apelações quando você tenta derrotar o Omega? Pois é.

Explorar o cenário também fornece informações extras para se compreender a história por trás da história. É possível terminar o jogo sem descobrir qual a relação entre Squall e Laguna, mas se você for colecionando as revistas que encontra em hotéis, você adquire os dados que te permitem conhecer mais do mundo que você visita. E, sinceramente, depois de jogar uma vez mais, você saca que precisa disso para que o jogo tenha real sentido.

Finalizando, FFVIII não é o melhor de todos, muito menos um JRPG perfeito, porém, é um dos que mais me motivou a me estender pelo mundo dos Role Playing Games e é meu favorito de todos os FF´s. Como queria que a Square desse mais atenção para ele. Ao menos, vemos Leon (outro nome do Squall) em Kingdom Hearts e em Dissidia. E vale a pena.