quinta-feira, 25 de março de 2010

Cornwell e suas fantásticas histórias

Um amigo meu, desses que a gente faz por causa de um dos entraves da vida, se tornou meu parceiro de leituras "complicadas". Vez por outra ele volta a me perguntar: ô rapaz, qual seu autor preferido? Eu páro, penso, olho pra minha estante de leitura (digo, a cabeceira da cama) e vejo a montanha de livros que ainda tenho pra ler. Desses, um nome se destaca, Bernard Cornwell. Pra definir os livros dele eu sempre uso a mesma alusão: Pensa num historiador que resolveu que seria romancista, fazendo assim livros com dados históricos coletados por ele em sua função e também criando uma ficção que parece aqueles seus professores de história que realmente eram bons e te envolviam. Mas Cornwell tem um defeito que é, ao mesmo tempo, uma de suas maiores qualidades: Ele é apaixonado pela história de sua terra natal, a Inglaterra e principalmente por personagens de sua família, que podem ter participado de alguns dos maiores eventos da história inglesa.



Em livros que retratam desde a pré-história da ilha, como Stonehenge, até incursões da nação em outros locais do mundo, como a série de Sharpe, vemos que Cornwell gosta de ser detalhista ao mesmo tempo que mexe com o imaginário de personagens ou locais famosos. Nas Crônicas de Arthur, o vemos dar ao famoso personagem que lutava com Excalibur uma versão humanizada, menos heróica, mas mais lutadora. Em outras obras, como Azincoutr, ele passa por situações já retratadas por outros autores, dando uma visão talvez mais plausível, ainda que muito puxa das terras britânicas. É fato que, pretendendo ou não, Cornwell dá aos ingleses um ar de terra mágica, de povo guerreiro e, por que não, pais de muitas das maiores histórias do mundo. Eu posso enumerar e resumir algumas das histórias que li, citando o que mais me agradou e o que menos e indicando por onde começar a ler Cornwell.

As Crônicas de Arthur



Livros: O Rei do Inverno, Inimigo de Deus e Excalibur

Primeiro que li e o com a história mais curiosa. Na época do lançamento eu tinha acabado de passar por uma enxurrada de histórias "mágicas" e não me interessava em ler mais uma história do famoso Rei Arthur só para ver os mesmos personagens fazendo a mesma coisa. Acho que desprezava o livro antes de conhecer. Mas aí ganhei Excalibur, o terceiro da série e tive de morder a língua. Já nas primeiras páginas vi situações inesperadas e me choquei com a versão mais inocente e ao mesmo tempo mais brava de Arthur que já tinha lido. Fui obrigado a voltar na livraria e comprar o Rei do Inverno para então seguir com a história. Vamos aos fatos, então.
Em As Crônicas de Arthur o personagem principal não é o famoso líder bretão, um dos primeiros a unificar os povos da ilha, mas também um guerreiro que salvou a Inglaterra de se tornar um país bárbaro. O protagonista se chama Derfel, um padre sobrevivente dos tempos do cavaleiro Arthur e que está escrevendo a história do seu falecido amigo, fingindo escrever uma bíblia. Derfel foi um dos aprendizes do mago Merlim e chegou a batalhar ao lado de Arthur muitas vezes, se tornando um de seus cavaleiros. Durante os três livros vemos o crescimento de Derfel e como ele se tornou aliado do "rei", que nada mais era do que um comandante, um símbolo de como se deveria e pelo que deveria lutar. Derfel é ácido e tem seus desentendimentos por alguns dos personagens clássicos, como Lancelot, mas também vemos como certos "fatos" podem ser extremamente diferentes se visto por outro ponto de vista. E se Merlim não fosse um grande sábio, mas um louco com pretensões demais e que acertava? E ser Arthur não tivesse jeito para rei, mas achasse que poderia ser o braço direito do rei? E se Lancelot não fosse realmente um herói? Muitas perguntas que o autor responde de forma muito bem elaborada.
O meu único problema com essa série é que ela inaugurou um estilo de Cornwell de forma um pouco incoveniente, o de deixar algumas pontas soltas. Além, de é claro, me fazer desprezar por muito tempo Lancelot, impedindo que eu o visse uma vez mais como o formoso "irmão de batalha" de Arthur. Ainda assim, é minha recomendação mór para quem quiser começar.

A Busca do Graal



Livros: O Arqueiro, O Andarilho e O Herege

Segunda trilogida de Cornwell publicada no Brasil, A Busca do Graal não trata de um personagem histórico específico, mas de um período: A Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra. Aqui, o protagonista é Thomas de Hookton, um jovem que teve sua família e sua vila dizimadas por um cavaleiro francês e seu exército, que estavam atrás do Santo Graal, e acreditaram que encontrariam alguma pista, se não o próprio, na vila de Thomas. Fugitivo e sem o que fazer da vida, Thomas se torna um Arqueiro do exército inglês e passa a lutar por sua terra natal em algumas das maiores batalhas do final da guerra, como a de Crécy. Durante as expedições, Thomas acaba se incluindo na procura pelo cálice sagrado e encontra o cavaleiro que acabou com sua família, Guy de Vexille. Os dois se enfrentam algumas vezes, enquanto Thomas vai descobrindo porquê acreditavam que o objeto estivesse na igreja de seu pai e como a história dele é envolvida pelas lendas cristãs.
A trilogia do Graal é intrigante porque ela funciona como uma antítese da de Arthur. Na primeira vemos um personagem cristão com claras tendências ao paganismo, falando de um personagem conhecido de praticamente toda a Inglaterra. Na segunda é exatamente o contrário, com um personagem cristão seguindo uma lenda cristã através da Inglaterra. Como eu pude perceber depois, graças a outras obras, Cornwell passa do ateísmo à crinstandade dependendo do período em que a história ocorre, permitindo assim que seus personagens não sigam seus ideais, mas os que ele pôde observar como os da época. É meio estranho e talvez contraditório, mas funciona bem para compreender Derfel, Thomas e outros que viriam depois. Durante os três livros do Graal a história é muito mais corrida e linear do que a presente nos livros de Arthur e os personagens são mais simples, o que talvez não funcione tão bem para quem gostou de Excalibur.

Azincourt



Entre séries, Cornwell também tem livros de edição única e Azincourt é o mais recente a que tive contato. Aqui, o personagens Nicholas Hook (talvez um ancestral de Thomas) é um arqueiro de um vilarejo do sul da Inglaterra que é obrigado a seguir uma companhia militar quando comete um crime contra a Igreja. A partir daí, Hook luta e foge como um condenado para que possa se livrar do que acredita ser uma maldição de família e acaba se tornando parte dos homens de Sir John Cornwaille (primeiro personagem com nome próximo ao de Cornwell). Em meio aos soldados, Hook faz parte da enorme comitiva inglesa que invade a França para lutar por Henrique V e termina lutando na batalha de Azincourt.
Por ser um livro apenas, Azincourt não tem tempo de desenvolver algumas das situações que descreve, o que atola o livro de descrições lentas das atividades do exército inglês. Mais, fala de uma batalha que tem tudo para dar errado e mostra personagens ingleses claramente falhos. No entanto, é fácil gostar de Nicholas, o que me permitiu seguir até o fim do livro. Sinceramente, na metade do livro eu praticamente quis parar, sendo o primeiro livro de Cornwell no qual senti que não estava tão bom assim. Só mudou um pouco de figura perto do final, quando a narrativa se divide, deixando Nicholas de lado um pouco e seguindo outros três personagens importantes. Fica um adendo para Sir John Cornwaille, que tem tudo para ser descendente de Uthred... Da série que falo a seguir...

As Crônicas Saxônicas



Livros: O Último Reino, O Cavaleiro da Morte, Os Senhores do Norte e A Canção da Espada (Até o momento)

Eu digo que, se teve um motivo para comprar esse livro e não Sharpe, foi porque eu ADORO histórias de Vinkings e porque achei a capa muito melhor do que o maldito comandante de guerra e suas batalhas na Índia. Calma que ainda lerei Sharpe e talvez comente aqui. As Crônicas Saxônicas trazem um fato para mim inédito em Cornwell: O protagonista é um "possível" ancestral dele, Uthred de Bebbanburg. O tal Uthred era filho do senhor de Bebbanburg que também era Uthred, mas sempre foi renegado pelo pai, até que o irmão mais velho, Uhtred (Sim, isso era costume na Inglaterra) foi morto por invasores nórdicos. Em uma batalha que o próprio protagonista chamaria de chacina e idiota, seu pai foi morto e seu castelo tomado pelo tio traidor que fez pactos com os Normandos, que invadiam o norte da Inglaterra. Uthred, o protagonista, foi levado por um dos guerreiros normandos, Ragnar, e criado como filho seu, lutando ao seu lado quando se tornou mais velho e, mais tarde, pelo rei inglês, o último deles aliás, Alfredo. Basicamente resumi o primeiro livro o mais que pude. A verdade é que As Crônicas Saxônicas é minha série favorita de Cornwell e o motivo pelo qual comprei todos os livros dele em que consegui colocar a mão até agora. Isso sem contar os que ganhei.
As Crônicas Saxônicas tem personagens cativantes, é cheio de batalhas que me fizeram sentir novamente no Abismo de Helm e, principalmente, traz o melhor dos protagonistas de Cornwell que já pude ler. Uthred é tolo, comete erros crassos, e ainda assim é um guerreiro e, talvez, um herói, trazendo vitória para seu rei sempre que possível. Fiquei fascinado com a série e a recomendo, não como primeira série a ler do autor, mas como a principal. Sério.

É, esses são os livros de Cornwell que li até o momento. Assim que tiver mais, eu posto aqui. Até lá, acompanhem vocês também essas histórias do coração da Inglaterra.

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